sábado, julho 31, 2010

Ave


Vendo a valsa das aves soturnas
Num céu vazio de angústias noturnas
Um violino que dá conselhos
Um piano jubiloso em prosa de leigos

Declamo Baudelaire para o poste da rua
Ouço o canto esquecido da Cheia Lua
Recolho meus versos, minha filosofia,
De um mundo que vive em falsa alegria

Damas da noite, cigarros, entorpecentes,
No vazio do amor, olhos carentes.
Livros na estante, egoísmo na língua,
Neurônios ilusórios morrem à míngua.

Eu, ave soturna acompanhante da noite,
Que procura nos becos o segredo da sorte,
Encontro nos breves anseios altivos humanos
O mistério trivial de um mundo insano.