terça-feira, janeiro 26, 2010

Onde há Sol

O sol do infinito brilha lá onde vive o céu
O diamante que sobe o orgulho dos cegos
Corta os pulsos de nossas crianças africanas
Derramam o suor dos deuses negros

As mulheres desnudas aidéticas e pobres
Bebem a água da lama da chuva sem ânsia
Anseiam apenas saciar a sede da mente
Lutam contra a fome com sua dança

Deus que mora em um planeta solitário
Vê o círculo que se fecha em torno dos homens
Cada um vulgarizando e vendendo seu corpo
Matando a nascente do amor, assoreando a fonte

Os olhos faiscando carência, negros fortes
Pedindo paz, mas só há obediência
A hierarquia que afunda o ser humano
Num mundo sóbrio de demência

Toda civilização que sobe seu auge
Mergulha, um dia, na derrota perdida
Engolem a saliva das palavras não ditas
E bebem o sangue de suas feridas

As lágrimas irão fazer águas dulcícolas
A areia vai desmanchar nas ondas
E as águas inundarão o pensamento podre
De todos os reis que vivem de sombras.

A humanidade vai aprender a valorizar
Cada pedaço da árvore que é cortada
E lá na África todos irão brindar
A estupidez arruinada.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Aprendiz

Dos sonhos, a vontade.
Dos beijos, a saliva.
Da vida, a saudade.
Das pessoas, a mentira.

Do mel, o fel.
Da dor, a resistência.
Das tardes, o céu.
Do desejo, a inocência.

Das noites, a solidão.
Do medo, o desafio.
Das paixões, ilusão.
Do calor, o frio.

Do atalho, o precipício.
Do pensamento, discussão.
Do tédio, o suicídio.
Do amor, imensidão.

Divino Esplendor

Neve flamejante a raiar no céu
Porta entreaberta do desejo
Segredo guardado no véu
Esplendor que almejo

Divina graça das graças
Loucura em versos cantada
De meus olhos, caça
De meu corpo, asas.

Céu de Correntina

Quando o céu de Correntina molhar a serra
Subirei em árvores para tocá-lo
Afagá-lo-ei em beijos e abraços
De ciúmes irei corar a terra

Versificarei seu sorriso celeste
E em prosas irei contemplá-lo
Único és em todo o mundo vasto
Linda paisagem junto ao solo agreste

Quando, por vezes, triste ficar
Abraçarei sua angústia de inverno
Espiarei sua imensidão a nublar
E sentirei teu choro tão terno

Céu sedutor como este não há
O azul da ternura, o cinza da maldição
És todo o desejo de amar
E toda a fervura da paixão.

sábado, janeiro 09, 2010

Longos tristes clamores de uma jovem.

Que bom seria ser a lua no céu, para apenas observar o gemido dos homens. Que bom seria se não houvesse tristeza agora, tudo seria júbilos. Para o meu descontentamento cretino de mulher, pertenço hoje a este fado. Não sei se devo atirar-me na companhia sagrada da solidão ou se mergulhar na minha mais surda altivez. Estendo a mão aos céus e faço promessas de glória, para ao menos este instante, não ser algo que eu não planejei. As lágrimas que escorrem repetidas em minha face são cachoeiras de pânico, soluços do término de um verão e preocupação neurótica com o inverno. Não penso se serei algo, ou se acabarei aqui, apenas queria ser a lua no céu, ah que bom seria.

domingo, janeiro 03, 2010

O que somos? O que sou?

O “um” é uma partícula de pequenos “uns” que formam o “nós”.
Mas o que é o “nós”, se cada um tem um pouco de todos?
Somos a vida projetada por mágicas? Somos o impulso do nada?
Nós somos a existência no vácuo ou o vácuo na própria existência?
Criamos nossa evolução ou somos cria da evolução?
Se cada um de “nós” é um “eu”, eu sou muitos? Sou milhares?
Noite, Noite.

Noite, noite, noite.
Caia serena, sem disfarce,
Quero que as luzes... Apague,
E que a escuridão se afronte*

Noite, fria noite...
Ascenda a palidez do luar
Devagar... Devagar
Para retirar-me este açoite*

Vendo-te! Oh! Bela Lua
Acalma-me aflições rotineiras
As lágrimas são passageiras
Diante de tua beleza nua

Abraça-me infantilmente,
Noite enluarada,
Minhas dores... Afaga!
Apenas este instante...