quarta-feira, abril 28, 2010

A terra lhe comerá os olhos, mas não tua virtude. Apodrecerá tua carne, até que os vermes sórdidos da terra úmida roam seus braços, pernas e nariz; E lhe tirará a possessão do mundo servil; Breve passagem, breve história. Seus cabelos grisalhos continuarão sedosos e velhos e cacheados, dançarão por entre os grãos de areia e no véu da noite, permanecerão frios. Eis o mistério da vida. Eis a loucura da morte. O corpo em pratos limpos, dado ao sol e à lua. Do ventre amado um menino saiu. Do ventre do solo irá perpetuar a mente. Do berço sai a criança, no vento lança-se um homem.

terça-feira, abril 27, 2010

Entre a montanha e o abismo infinito, sobre o nariz sem jeito, o lábio sem carne, a pele alva e sob os cabelos negros flexíveis, um olho de verdade, outro de mentira. A retina tímida, a íris escura. A menina dos olhos dele cresceu, enfrentou a vida e continua pueril. Quando olha sorrindo, no fundo, os olhos ainda permanecem ingênuos. Quando olha baixinho, no pé dos cílios, um desagrado. Quando olha sem medo do horizonte, uma mentira. Quando se fecham sem explicação, um sentimento, vento sem direção. Não absorve, não penetra se esvai como chuva no bueiro, como poeira na estrada, leve e livre, mas preso sem querer. Evacua-se o pó do pote, o bilhete da garrafa, a criança do progenitor. E se entrega e se deixa, voa, brinca no céu sem fado, sem nexo, atordoado, amedrontado, solitário e não se sente mais. Quando se abrem no escuro, braço forte. Ergue construções, mergulha no rio corrente, descrente, nada até chegar à fonte. Feroz, sóbrio. Ânsia egoísta, mata e geme, corta e alça os desejos, acende a luz, enxerga seu quarto do mesmo modo que deixou. A cama, o armário, o lençol vermelho, o amor iludido, o arrependimento, a tristeza, o desengano. E nada mais vale. Os olhinhos brilham de vontades vexadas, desgarram-se do atalho tomado, e olham pra baixo, no pé dos cílios, um desagrado. E já não há brilho, apenas morte; Sorte de se desvincular. E seguindo seu caminho, torto, sem posição... Sua montanha rochosa se desmorona e o abismo se preenche, não há onde morrer. A inocência se perde como notas de um violão que chora o coração dos outros, e brinca nos pastos verdes da carência absoluta, como Eva no Paraíso perdido, agarrada à certeza da eternidade. Sem chance de se sentir homem e se contradizer, e aprender a amar como antes. Os olhos daquele adulto maduro, pretos e tão previsíveis, olhos de um alguém que não encontra alguém, olhos amadurecidos e infantis. Não existe mais singeleza naquele olhar, apenas curiosidade. Como se o tempo fosse a mesmice do dia, e ele é o mesmo e parece com os mesmos homens que trabalham, com as mesmas idades e que assistem os mesmos filmes. Quando no fim de semana procuram calor a quem oferece. Um homem com olhos normais, não há nada dentro até que alguém ouse descobrir. E tente mudar a trivialidade daquela vida pasma, incerta. E aqueles olhos, pequenos e grandes, olhos vestidos com dúvidas no interior da retina e com ar de soberania masculina no revestimento da íris negra. Tão jovial e tão desgastado, o olho da mentira, usado para enganar os corações mais puros ou os mais vulgares. Na parte do seu olho verdade, ainda resplandece um amor ofuscado que necessita aparecer, precisa aparecer. E a moça bonita dos lábios de carne não ama aquele homem breve e efêmero, eles se correspondem com a mesma luz. Como o luar e o sol. O fim da noite que abraça a aurora cinzenta, e se completam e se eternizam, e a inocência voltará ou morrerá pela montanha rochosa. A inocência não se esquivará ao mal do ódio de todo o sofrimento dos pássaros amigos que escrevem com o vôo no céu azul.

quarta-feira, abril 07, 2010

Nem sei o que escrever aqui


Quando todas as rosas morrem no jardim da solidão e as últimas pétalas são levadas pelo vento desiludido, o sol costuma ser negro, congelando os melhores júbilos do que um dia foi celebrado. As dores transformam-se em armas carregadas de lágrimas, que se atiram como solos de uma guitarra desalmada. Quando todas as soluções já foram dadas, quando todos os sonhos já foram sonhados e todas as respostas já não se encaixam nas perguntas. O revólver do coração. O ódio exaltado, o arrependimento e tudo que um homem abomina. A morte seria a única saída. A morte não é má quando o horizonte já não fica ao fim da linha reta, quando não é azul. “Há coisas piores para um homem que a morte”, há coisas piores do que ser alimento a seres que merecem viver. Existem segredos nos olhos do mundo, e muito mais, existem esqueletos de quem tentou invadir a plenitude da verdade com verdades falsas, hipócritas e podres. Não há verdade aqui. Espinhos, glórias e o sangue do desespero já foram derramados neste solo infértil, nessa sórdida destruição caótica do próprio Eu, a bomba atômica foi acionada, os escudos foram lançados ao rio e as lanças foram usadas como instrumentos suicidas. O terror da vida é a vida em terror. Já não há o que escrever nas poesias, não há o que relatar em textos, não há o que contar em histórias, as coisas se repetem e se desvalorizam, as mulheres se abrem e se fecham e se queixam, as mulheres não são amadas e os homens não fazem questão. O coração é um pequeno órgão sem função emocional, a cabeça é um tambor onde o capitalismo bate para sair o som ritmado em dinheiro. Dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. É preciso apelar para a loucura de Nietzsche ou encontrar salvação na Bíblia. Esse caso nem Freud explica.

domingo, abril 04, 2010

Todo o querer

Quando a vida passar pela esquina da dúvida, grite alto para que as nuvens do céu ilimitado deixem cair gotas de coragem. Ao ver o vento veloz soar na mata, feche os olhos e note que a escuridão tem fim ao romper dos cílios. Viver não é pecado, morrer também não.
Tudo que se quer viver, tudo que se necessita morrer, todo o desejo, toda a tristeza. Mate o passado com um punhal do futuro, transforme-o em sangue. Olhe o horizonte, há morte no fim dele.