quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Teus olhos céticos

Fitei bolas de cristal cobertas de um negro pano
Onde o mistério reinava imperial e soberano
Numa província de atrevidos servos olhares
De uma jovem que deixou todos os altares

Incrédulas rosas que desabrocharam sozinhas
No palácio da sabedoria que o homem definha
Caindo as pálpebras num sono quase eterno
Num túmulo alvo de encantados olhos céticos

Um mar de carência perpetuava os negros olhos
E dentro as ondas submergiam seus sonhos
A brisa que voava na evasão dos ares reais
Juntava-se ao seio dos vãos olhos serviçais

Por de trás de todo o muro tácito e descrente
Um coração desmanchado e por vezes, distante
Os olhos céticos penetravam como duas insônias
Em uma longa fascinação sinfônica

Eu, que sobre júbilos gorjeio versos sonhadores
Entrego o dispor de uma vida aos teus temores
O que o universo separa através de reclamações
Unifica com fortaleza todas as hesitações

Os olhos céticos escondem a brancura do peito
Perante um mundo lapidado de desprezos
Talvez o medo, um obséquio da temeridade
Construa os vidros da subjetividade.

Olhos negros céticos profundos e carentes
Sonham no fundo da alma sonhos inocentes
A coroa da sabedoria reina sobre o coração
Tornando seus sonhos uma adormecida canção.


retirado do Conto "Teus olhos céticos", Alice Maria.